A região de Portalegre faz parte das minhas memórias de infância mais alegres.
Lembro-me que a viagem de Lisboa a Porto da Espada demorava praticamente 1 dia. Só sabia que estava realmente a chegar quando finalmente avistávamos uma estrada ladeada de árvores com riscas brancas. Nessa altura o meu tio dizia-me: "Este ano temos que ir caçar javalis e dos ursos que vivem na serra!".
Obviamente que nunca fomos à caça de nada, e na verdade nunca cheguei a ver nenhum javali muito menos um urso.
Nos últimos anos, o entusiasmo que sempre nos acompanhava quando íamos de férias esmoreceu. O sobressalto constante dos fogos e a imagem de abandono da serra, das casas e das próprias aldeias sempre nos entristecia, e era geralmente tema de debate durante as viagens.
A notícia da construção do Campo de Golfe no sopé da Serra do Marvão pareceu-nos que poderia ser uma alavanca para a região, ou pelo menos um uma barreira para travar o despovoamento alarmante. No entanto, e como já estamos infelizmente habituados, em Portugal tudo o que envolve investimento, construção e ambiente, resulta numa grande trapalhada e em situações muito mal explicadas..
O Campo de Golfe até foi construído, o projecto de empreendimento até se iniciou, mas nunca se concluiu, e mais uma vez as coisas ficaram pior do que inicialmente, com a imagem degradante de habitações inacabadas no meio de um Parque Natural. Foi por isso que li esta noticia com um misto de alegria e desconfiança.
Dificilmente as coisas ficarão pior do que já estão. Mas esta pode ser finalmente a oportunidade que há anos foi prometida à região.Esperemos que passados mais de 10 anos(!) as mentalidades tenham mudado e que os interesses ambientais sejam acautelados das habituais "maroscas" do pessoal que pensa sempre que pode comprar tudo..
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